Em dia aziago tento
escrevinhar algumas palavras sobre a minha insólita leitura, não sei o que me
deu, comecei por ler, duas vezes, o prefácio deste texto clássico de autoria da
helenista Maria Helena da Rocha Pereira, depois tentei desbravar o texto que de
acordo com a insigne académica, “toda a
teoria literária ascende”.
É de facto um texto
extraordinário, data de cerca de IV a. C, “…em
data difícil de precisar, é sobretudo ao período áureo da Tragédia Ática, ou
seja, ao século anterior, que ele se reporta, e aos Poemas Homéricos, quanto à
Epopeia. O que significa que o leitor tem diante de si a primeira grande
teorização sobre algumas das mais altas realizações da Poesia.”
O texto pode dividir-se
em três partes principais: “uma de
introdução em que a mimesis [imitação] surge logo como o conceito fundamental
em que assenta a actividade poética (…); outra sobre a tragédia (…); e outro
ainda sobre a epopeia (…).”
Neste “pequeno” texto,
Aristóteles refere para exemplificar e analisar, as epopeias e as tragédias
escritas por Homero, Platão, Sófocles, Eurípedes, Ésquilo, dos quais nos
chegaram obras intemporais e ainda outros autores, dos quais apenas chegaram
aos nossos dias fragmentos ou mesmo nada.
Depois de terminar a
leitura do texto e da perfusão de notas que a tradutora Ana Maria Valente,
incluiu em rodapé, de modo a ajudar a situar os leitores como eu, voltei a
reler uma terceira vez o prefácio de Maria Helena da Rocha Pereira.
Hoje à tarde, enquanto
aguardava a hora de início de mais uma das Conferências do Teatro - Madeira de
A a Z 2017 -, tive a oportunidade de ler o Editorial de Carlos Vaz Marques,
incerto na publicação Granta 10 –
Revoluções, a páginas tantas li: “A
última frase do livro mais célebre do filósofo francês [Cândido, Voltaire]
sugere que cada um de nós tem o dever de cultivar o seu próprio jardim, o que
já seria só por si revolucionário; (…)”, palavras escritas a propósito do conto de Isabela
Figueiredo, que faz parte deste novo número.
Já lera Cândido ou O Otimismo, de Voltaire, mas,
fui a correr consultá-lo e reli os últimos parágrafos, aquelas palavras
tocaram-me profundamente e com a leitura de Poética,
de Aristóteles, sinto que plantei mais uma espécie nova no meu jardim.
Foi uma experiência de
leitura muito interessante, um mundo a descobrir…