Há
uns meses atrás senti a necessidade de organizar as minhas leituras,
especialmente depois de assinar algumas revistas literárias (a Granta e a Ler), o Jornal de Letras,
Artes e Ideias, bem como a revista Visão.Afinal,
tudo nesta vida resume-se a satisfazer necessidades e a fazer escolhas, umas
mais prementes do que outras, evidentemente.
Quando
se começa a adquirir mais livros do que aqueles que se conseguem ler, temos
mesmo que nos organizar, e repare-se que leio por prazer e por necessidade
intelectual.
Sempre
gostei de ler, lá em casa líamos o que os nossos pais conseguiamadquirir,
socorríamo-nos das bibliotecas públicas, incluindo a itinerante da Gulbenkian
ou em alternativa a biblioteca dos irmãos mais velhos dos nossos amigos.
Aqui
chegados e depois de terminada a leitura de um conjunto de livros escritos por
mulheres ao longo do último ano e da leitura de dois títulos do género policial
e de um romance durante os meses de Julho a Setembro, resolvi enveredar por um
novo caminho: ler os clássicos, cuja leitura tanta falta me tem feito.
Ora
bem, comecei por Stendhal e pelo seu romance O Vermelho e o Negro. Cresci a ouvir meu pai a falar deste romance,
sempre me pareceu que o marcou, por esse facto, quando o vi editado tratei de o
adquirir, foi há dois anos que o trouxe para casa.
Achei
este romance extraordinário por várias razões: a época que aborda (os anos após
a queda de Napoleão Bonaparte - um período denominado de Restauração Francesa
-), um tempo em a sociedade francesa continuava à procura do seu caminho, em
que as diferentes classes sociais procuravam o seu lugar, se por um lado a
aristocracia e o clero procuravam recuperar os seus privilégios e o seu lugar
na sociedade, a burguesia provinciana, tudo fazia para adquirir estatuto. No
fim da estratificação social, continuavam os mais pobres, o povo. Standhal
escalpeliza toda esta dinâmica de uma forma magistral, dando-nos a conhecer com
realismo, como funcionavam as relações entre os diferentes estratos sociais. Os
personagens também são divinalmente esmiuçados e retratados, fazendo-nos
reflectir e reconhecer certos tipos de pensamento e comportamento nos tempos
atuais.
Apreciei
a breve referência à “nossa” Soror Mariana Alcoforado com um parágrafo extraído
de Cartas de Uma Freira Portuguesa:
“Amor! Em que loucuras não nos fazes sentir
prazer?”
E
extasiei quando na véspera do nosso feriado do Dia de Implantação da República,
me deparei com o seguinte excerto de autoria de Napoleão Bonaparte:
“A República! … Para um que
hoje fosse capaz de tudo sacrificar pelo bem público, há milhares e milhões a
quem só interessam os prazeres e a vaidade. Em Paris, apreciam-se os homens
pela carruagem em que andam e não pelas virtudes.”
É por este e por outros motivos que nos devemos debruçar sobre os
clássicos. Pela minha parte desejo voltar a Stendhal, gostava de ler, por
exemplo A Cartuxa de Parma, mas podem
ser outras as obras deste fantástico escritor…