quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Virginia Woolf in Rumo ao Farol, II – O Tempo Passa, Relógio D’Água, 2008.

“Eis que, então, com todas as luzes apagadas, a Lua declinou, e uma chuva fina, fazendo tamborilar no telhado um aguaceiro de imensa escuridão, principiou. Nada, dir-se-ia, seria capaz de sobreviver à enxurrada, à profusão da treva que, insinuando-se pelas fendas e pelas fechaduras, silenciosamente alcançava os quartos, penetrava neles, engolia aqui um jarro e uma bacia, além uma taça de dálias vermelhas e amarelas, acolá a aresta colante e o vulto firme de uma cómoda. E não era apenas a mobília que se confundia; havia muito pouco de corpo ou de espírito que, por si só, consentisse que se dissesse «Isto é ele» ou «Isto é ela». Por vezes, uma mão se erguia, como que para prender ou desviar qualquer coisa, ou alguém roncava, ou ria alto, como que partilhando um gracejo com o vácuo.”


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