terça-feira, 31 de março de 2015

Jornal de Letras - amanhã nas bancas - Imperdível!


Revista Literária LER


Livro: A Queda de Um Anjo, Camilo Castelo Branco, MEDIASAT, 2004.

Ao som do Ahmad Jamal Trio, partilho convosco as minhas impressões sobre uma última leitura: A Queda de Um Anjo, de Camilo Castelo Branco, um escritor romântico muito prolífero e considerado um dos maiores do século XIX. 
Novela humorística, retrata as mentalidades portuguesas da época, onde o dinheiro é preponderante para o valor e a importância que as personagens assumem em termos sociais.
Esta obra retrata de uma forma satírica o meio político de então e a forma como se digladiavam os velhos valores do Portugal antigo e desfasado a que pertence o personagem principal desta história, Calisto Elói de Silos e Benevides de Barbuda, morgado de Agras de Freimas, que desce de Trás-os-Montes para a capital, assumindo o seu lugar como deputado, “…onde choca de frente com uma sociedade moderna, muito influenciada pelas tendências e virada para o progresso.” 
Apesar de não aprofundar muito a caraterização das personagens, conseguimos elaborar um retrato dos diversos tipos de personagens que construiu e que são representativos da sociedade da época. 

O seu brilhante uso do português capta com subtileza as modulações da linguagem que vão da região de Trás-os-Montes ao Entre Douro e Minho, sabendo recriar como ninguém os costumes que compunham a vida social e familiar do seu tempo.”

Gostei muito desta obra e achei-a muito interessante, por isso recomendo a sua leitura.



Livro: A Costa dos Murmúrios, Lídia Jorge, Círculo de Leitores, 1988.

Passei a tarde a concluir a leitura do meu primeiro romance de Lídia Jorge, A Costa dos Murmúrios, a ação decorre mais uma vez em Moçambique, mas desta vez na cidade da Beira e durante a passagem dos anos sessenta para os anos setenta.
Pode ler-se na badana do livro: “Vinte anos separam as duas partes deste livro feito de dois «textos». O primeiro, chamado Os Gafanhotos, é a história na terceira pessoa do casamento do alferes Luis Alex com Eva Lobo na cidade da Beira antes da partida para Mueda e a singularidade de que se revestiram os acontecimentos. No segundo «texto», A Costa dos Murmúrios propriamente dito, Eva Lopo, «Evita», vinte anos depois comenta a história de “Os Gafanhotos, dando a conhecer a visão feminina contraposta à dos homens, como foi viver a guerra por dentro, a inquietação da espera, as acções dos que se reclamavam heróis e tinham medo.”
Levei algumas páginas para entrar no espirito do romance, mas, há medida que fui avançando na sua leitura, embrenhei-me e fundi-me com a escrita de Lídia Jorge.
Gostei muito e recomendo a sua leitura, pela minha parte, brevemente irei voltar a esta autora portuguesa.



Livro: Venenos de Deus, Remédios do Diabo, Mia Couto, Caminho, 2008

Terminei a leitura de um romance que nem chegou às duzentas páginas, um pequeno romance de Mia Couto, uma pequena pérola da língua portuguesa.
Nesta pequena obra literária encontro pela primeira vez a expressão “português moçambicano”, a qual serve para explicar a incorporação na língua portuguesa de múltiplos vocábulos falados pelas diversas etnias que existem em Moçambique. 
Gosto muito de ler Mia Couto, gosto muito do Moçambique que o escritor descreve, gosto das personagens que constrói e gosto de ler em português moçambicano. 
O jovem médico português Sidónio Rosa, perdido de amores pela mulata moçambicana Deolinda, que conheceu em Lisboa num congresso médico, deslocou-se como cooperante para Moçambique em busca da sua amada.
Em Vila Cacimba, onde encontra os pais dela, espera pacientemente que ela regresse do estágio que está a frequentar algures. Mas regressará ela algum dia?
Entretanto vão-se-lhe revelando, por entre a névoa que a cobre, os segredos e mistérios, as histórias não contadas de Vila Cacimba – a família dos Sózinhos, Munda e Bartolomeu, o velho marinheiro, o administrador, Suacelência e sua Esposinha, a misteriosa mensageira do vestido espalhando as flores do esquecimento.”

Um muito simpático e fantasioso romance que recomendo para leitura.


Livro: Vale Abraão, Agustina Bessa-Luís, Babel, 2014

Acabei de ler mais uma obra de Agustina Bessa-Luís, depois de me ter estreado com a formidável A Sibila e de me ter deslumbrado com A Corte do Norte, cuja ação se desenrola na Ilha da Madeira, voltei às margens do rio Douro, para ler e “ouvir” contar a história de “Bovarinha”.
Adoro a escrita de Agustina e a sua forma quase poética de tratar e de descrever as mulheres, uma escrita no feminino.
Ema a personagem de Vale Abraão a quem chamam a “Bovarinha”, encarna um desamparo eterno e sem causa. Envolve-se numa história de adultério numa época em que a palavra “adultério” quase caiu em desuso e em que a permissividade em matéria de sexo tornou difícil conceber o escândalo a partir deste. Salva-a o humor. Porque é este que lhe permite olhar com alguma distância a vulgaridade dos que a rodeiam, sem no entanto estar totalmente fora dela; tocá-la sem estabelecer com ela um vínculo; recusá-la sem por isso se converter em heroína; passar a linha que demarca uma cultura e não ser maldita mas tão só incorrigível.”
Gosto da sensação de puder voltar a Agustina, de a descobrir, de me inspirar, de ainda existirem muitas obras desta maravilhosa escritora para eu desfrutar.. 

E pois claro, recomendo vivamente que leiam Agustina Bessa-Luís.


Livro: Volfrâmio, Aquilino Ribeiro, Circulo de Leitores, 2007.

Embalada pela audição de uma gravação de seu nome, “Jealousy” de Yehudi Menuhin e Stéphane Grappelli, terminei a leitura de mais um romance de Aquilino Ribeiro, desta feita, Volfrâmio.

Escrito em 1943, este romance retrata as vivências no Portugal profundo, rural, serrano, à volta da exploração do minério que ambas as partes beligerantes do conflito mundial desejavam ardentemente e que tudo faziam para obter a custos irrisórios.

Populações que viviam miseravelmente e que de repente se viram confrontadas com a possibilidade de arrecadarem alguns patacos, mediante o esgravatar de terrenos incultos, pedregosos, de difícil e perigoso acesso, arrasando culturas se preciso fosse, para acederem ao negro e luzidio volfro.
 
Uns enriqueceram, outros apenas fugazmente, mas todos tentaram, quer através do trabalho em minas, quer por conta própria ou roubando os pecúlios alheios, arrecadar algo mais que lhes pudesse melhorar as suas vidas.

Impressionou-me muito a leitura desta obra, não pelo uso de palavras e expressões que há muito caíram em desuso, apesar de reconhecer em certos dizeres, vocábulos que ainda hoje utilizamos e que é a forma de escrever de Aquilino Ribeiro, mas sobretudo, pela discrição das condições em que viviam as populações, uma minoria abastada e uma maioria vivendo muito mal, vidas rudes, incultas, trabalhando de sol a sol e nada tendo de seu.

Um retrato difícil de ler e aceitar…

Termino recomendando que leiam Aquilino Ribeiro.


Livro: O Anjo Branco, José Rodrigues dos Santos, Gradiva, 2010.

Terminei a leitura do romance O Anjo Branco de José Rodrigues dos Santos, foi por curiosidade que o iniciei e foi por uma certa teimosia pessoal que o terminei. Em tempos, quando não me agradava uma obra, punha-a de parte sem contemplações, agora, mais madura, faço questão de terminar as leituras que inicio.
Pois bem, começo por referir que foi uma obra que me chocou, sobretudo, pela linha temporal da narrativa, possui muitas interrupções, muitos saltos, o que em minha opinião, não fazem qualquer sentido para a história que está a ser contada. Quando o personagem principal chega a Lourenço Marques, parece que estou a ler um artigo de uma qualquer revista de viagens, tal a profusão de identificações forçadas. Também achei um exagero querer utilizar múltiplas expressões lexicais típicas de um determinado grupo de pessoas da região e não gostei mesmo nada da forma como escreve sobre sexo, não é erótico, não é pornográfico, é rude, é grosseira a forma como se refere às mulheres. Quanto à história em si, ao retrato social que descrever, ás personagens que construiu, é tudo muito pobre, tudo muito simples.
Quanto à questão do “massacre de Wiriyamu”, terá acontecido mesmo? Como é possível ter existido uma aldeia no interior de Moçambique com um nome em que aparecem duas letras que não fazem parte do nosso alfabeto?
Enfim, não fiquei nada convencida e não gostei deste autor, da sua forma de escrever, mas, recomendo a sua leitura, a fim de todos vós tirarem as vossas conclusões…


Livro: A Sentinela, Richard Zimler, Porto Editora, 2013.

Terminei a leitura de mais uma obra de um escritor que conheço há algum tempo e de quem já li várias obras, comecei com O Último Cabalista de Lisboa, um romance histórico muito interessante, muito bem escrito e que me fez chamar a atenção para a escrita de R. Zimler, depois seguiu-se Goa ou O Guardião da Aurora, Á Procura de Sana, A Sétima Porta, o romance que mais impacto me provocou, Os Anagramas de Varsóvia e agora A Sentinela.
A Sentinela é um policial, um policial diferente, confesso que me chocou um pouco, não só por divergir do género literário a que R. Zimler nos tinha habituado, como também pelos temas que aborda, o tempo da ação, a construção dos personagens e a forma como escreve sobre eles. De ritmo rápido como convém a um policial, li-o de uma assentada.
Julgo que a leitura que antecedeu esta - Anna Karénina de L. Tolstoi -, deixou marcas e elevou a fasquia para níveis dignos do Evereste. Só voltará à tona de água, em minha opinião, com autores de outra dimensão.
Não sendo a obra deste escritor que mais apreciei, recomendo a sua leitura…  


Livro: Anna Karénina, Lev Tolstoi, Relógio D’Água, 2006

Iniciei 2015 terminando a leitura de uma obra que é considerada um clássico da literatura mundial, a sua primeira edição data de 1877 e realmente, para mim, no contexto do muito que já li, Anna Karénina de Lev Tolstoi será um marco nas minhas deambulações literárias.
Anna Karénina é uma obra tão assombrosa, que dela poder-se-iam extrair várias obras, tal a sua riqueza temática, a profundidade e a complexidade dos pares de personagens, à volta dos quais é construído um dos mais belos romances escritos até hoje.
A personagem que dá o nome ao romance é a personagem mais fascinante, mais heterodoxa, para a época em que foi escrito o romance, enredada num mundo de convenções e hipocrisias, é extraordinária a capacidade que o autor revelou ao construir uma personagem como a Anna, uma mulher que sonhou, ousou, lutou, mas que acabou por sucumbir num mundo onde as mulheres não possuíam direitos só deveres.
Estreei-me na literatura russa há muitos anos, com o Arquipélago de Gulag de Alexander Solzjenitsyn, um escritor russo que recebeu o Nobel da Literatura em 1970, não se tratando como é sabido, de um romance, mas sim um testemunho, já na altura tinha gostado muito da sua forma de escrever, mas, agora com Tolstoi, o fascínio foi total.
Recomendo vivamente a leitura deste extraordinário romance, com esta leitura acrescentei mais uma antepara, uma forte antepara, ao meu conhecimento literário, à maravilhosa forma como é possível escrever, contar uma, várias histórias ao mesmo tempo, mas não só, ao meu conhecimento do mundo e à forma como as sociedades têm tratado as mulheres.


Livro: A Corte do Norte, Agustina Bessa-Luis, Guimarães Editores, 2008.

12 de Julho de 2014

Uma leitura que termina, um encantamento que se vai.
Desta autora já tinha lido "A Sibila", demorei certo tempo a entrar no seu mundo, mas depois deixei-me envolver. Tinha muita curiosidade em ler "A Corte do Norte", cuja ação decorre na Ilha da Madeira, Agustina sabe e sente quando escreve sobre a Ilha e as suas gentes, ao longo da minha leitura, tenho partilhado aqui no FB breves trechos, tentando mostrar a singularidade, a delicadeza e a profundidade da sua escrita: "Este livro de Agustina Bessa- Luís é um tratado de livres caudais do engenho e da arte de escrever. A Imaginação, como as levadas na ilha da Madeira, salta por todas as fragas e produz lagos e cataratas. Nada a prende e tudo a modela. Ler Agustina Bessa-Luís é, neste caso, um exercício de colaboração na escrita. Porque o leitor participa no que inventa e no que deduz, e o romance resulta do que todos argumentam e podem supor".
Deste modo, não resisto a transcrever um último pedacinho
"Chegará um tempo em que as ilhas hão-de desviar o turismo da sua rota e transformar-se em centros de cultura, em grandes territórios científicos, como os antigos conventos. A Madeira será um desses. Pela lealdade do clima, coisa que o homem de pensamento regista como afeto à sua concentração e à liberdade dos seus passos, a Madeira pode tornar-se uma Atenas atlântica, com todas as condições para contribuir para a prosperidade dos povos. Hão-de afluir aí os sábios e os artistas, e a plenitude dum trajeto humano irá além dos objetivos lúdicos."
Que melhor forma de terminar a minha reflexão sobre esta obra literária, do que as palavras de Agustina Bessa-Luís, profetizando para a Ilha da Madeira um futuro de arte, cultura e conhecimento.

Recomendo pois a leitura desta singular obra literária.


Fim de um ciclo.

28 de Junho de 2014 às 14:04
Terminou um ciclo na vida dos nossos filhos e para nós também. A nossa filha terminou o 12º ano, na área de Línguas e Humanidades, com uma média muito simpática, mercê do seu trabalho e do seu esforço, com o apoio dos professores, do pai, da mãe e do mano e sem recorrer a explicadores. Apesar de um ano financeiramente muito difícil, foi capaz de ultrapassar todas as vicissitudes e todos os constrangimentos, incluindo as suas faltas injustificadas, assim, a nossa filhota está de parabéns!

Como sempre lhe digo, o fácil todos conseguem, o difícil é só para alguns e a vida é assim, obstáculos que têm que se ultrapassar, dificuldades que têm que se vencer, etapa a etapa...

Agora há que aguardar o resultados dos exames nacionais com serenidade, a fim de prosseguir os seus estudos superiores na Faculdade de Direito da Universidade Clássica de Lisboa, bem pertinho do local onde nasceu: Hospital de Sta Maria, freguesia do Campo Grande!

Quanto ao nosso filho, também contamos que termine neste ano escolar o seu ciclo de estudos na área profissional - Técnico de Informática -. Com esta formação o nosso filho revelou qualidades e competências desconhecidas para nós e certamente para ele próprio, até descobri que gosto muito da sua maneira de escrever...

Para além do facto dos nossos filhos, falarem, escreverem e lerem inglês perfeitamente, aprendizagens obtidas exclusivamente através da escola pública e sobretudo, através da utilização dos seus equipamentos informáticos, como pais, sentimo-nos recompensados e muito felizes, por criarmos e acompanharmos dois seres humanos bestiais e cheios de potencialidades.



Livro: Novas Cartas Portuguesas, Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta, Maria Velho da Costa, edição anotada, organização de Ana Luisa Amaral,D. Quixote, 2010.

20 de Junho de 2014

Terminei a leitura desta obra publicada em 1971 e da qual tenho vindo a publicar diariamente aqui no FB, pequenos excertos alguns mais relevantes do que outros, de modo a dar a conhecer a obra a quem ainda não a tenha lido.
O facto de ser uma edição anotada ajudou-me a compreendê-la melhor e julgo sinceramente que todas as mulheres a deviam ler, mas não só, todos os homens também.
É uma obra prefaciada por Maria de Lourdes Pintassilgo que no pré-prefácio escreve: "É tal a rotura introduzida pelas Novas Cartas Portuguesas que a sua primeira abordagem só pode ser feita à luz do que elas não são. Não são uma colectânea de cartas, embora se reconheça nelas o estilo tradicionalmente cultivado pelas mulheres em literatura. Não são um conjunto de poemas esparsos, embora em poesia se converta toda a realidade retratada. Não são tão pouco um romance, embora a história vivida (ou imaginada) de Mariana Alcoforado lhe seja a trama principal.
São talvez um pouco de tudo isso. E ainda mais (...) Porque rompem, extravasam. Daí que as Novas Cartas Portuguesas se caraterizem antes de mais pelo excesso. Excessivas as situações, excessivo o tom, excessivas as repetições dum mesmo acto, excessivo afinal todo o livro que vai terminando sem realmente terminar, como se tal excesso não coubesse nas dimensões normais."
Também Ana Luisa Amaral referiu na sua introdução que: "Reescrevendo, pois, as conhecidas cartas seiscentistas da freira portuguesa, Novas Cartas Portuguesas afirma-se como um libelo contra a ideologia vigente no período pré-25 de abril (denunciando a guerra colonial, o sistema judicial, a emigração, a violência, a situação das mulheres), revestindo-se de uma invulgar originalidade e atualidade, do ponto de vista literário e social."
Li esta obra durante o meu período de férias, o qual, ora termina, período de férias destinado sobretudo ao acompanhamento da minha filha no estudo para os exames nacionais, julgo que este objetivo foi muito enriquecido mercê da leitura desta obra espantosa, algo violenta, mas também muito sensível e sensual, até porque a educação das jovens meninas sempre foi vista como algo desnecessário, face à sua condição de mulher. Assim, considero este objetivo duplamente conseguido, por um lado, criando as condições necessárias para a minha filha crescer através dos estudos e por outro, o conhecimento por mim adquirido através da leitura desta magnífica e esclarecedora obra. E ainda porque que a leitura das Novas Cartas Portuguesas, foi acompanhada pela leitura de outra excelente obra literária, de autoria da extraordinária Agustina Bessa-Luis. Mas acerca dessa leitura, as reflexões ficarão para outra nota...

Julgo que desta maneira ficou bem expressa a minha recomendação para a leitura de Novas Cartas Portuguesas.


Livro: Sinais de Fogo, Jorge de Sena, Guimarães Editores, 2009, Mécia de Sena, 2009.

12 de Junho de 2014

Adquiri esta obra em abril de 2010, uma obra que há muito pretendia ler, no entanto, foi em 2013 que conheci Mécia de Sena (mulher de Jorge de Sena), através de uma entrevista concedida a Luis Ricardo Duarte, em Sta Bárbara, EUA e publicada no Jornal de Letras nº 1119 (2ª quinzena de agosto), confesso que fiquei surpreendida com a personalidade e sobretudo com a dedicação e o amor que esta mulher sentia em relação ao marido. Após a morte de Jorge de Sena, Mécia de Sena tem dedicado a sua vida a organizar, a estudar e a divulgar a obra do marido:

"Se eu viver depois de ti, querido, o que não desejo, a tua obra será para mim como uma bíblia para o mais fervoroso crente, e podes ter a certeza de que fica bem entregue. Mécia, carta de 18/09/48

Através da Granta Portuguesa nº 2 (Poder), pude tomar contacto pela primeira vez, com a escrita de Jorge de Sena através da publicação da Correspondência entre Jorge de Sena e Carlos Drummond de Andrade e onde fiquei presa à sua forma rica e clara de escrever, deixando-me muito curiosa e com grande vontade de ler "Sinais de Fogo", obra que ora terminei de ler.
Sinais de Fogo, é uma obra surpreendente, "De uma erudição e de um rigor literário inexcedíveis." De acordo com Mécia de Sena, é um romance longo e inacabado, por isso publicado após a sua morte, também de acordo com Mécia, "Jorge de Sena considerava-se acima de tudo poeta e como tal gostava de ser reconhecido".
Na minha modestíssima opinião, Sinais de Fogo é uma obra surpreendente, não só pela riqueza da sua construção literária, mas também pela clareza e pela minúcia na construção do retrato psicológico das personagens, sem fugir a nenhum tipo de considerações ou sentimentos, tanto nobres como vis, de tal modo que me senti chocada em vários momentos, não pelas palavras em si, mas pelo que elas traduziam e representavam, especialmente ao nível do papel das mulheres na sociedade de então. Cheguei a sentir repulsa e tristeza, sobretudo muita tristeza...
Muito mais abalizadas serão as análises dos especialistas que se têm debruçado sobre esta obra tão rica e tão complexa, na minha qualidade de leitora de lazer, esta é a minha reflexão, gostei muito e recomendo a sua leitura.



Aniversários.

28 de Maio de 2014 às 18:48
Hoje faz 29 anos que comecei a trabalhar na Alfândega (sempre com letra maiúscula!) e amanhã fará 23 anos que o meu Filipe nasceu!
É pois um mês muito especial!
Euzinha, a Sofia e a Isabel, apresentámo-nos na saudosa Direção da Alfândega de Lisboa, onde feitas as devidas apresentações e dadas as respetivas explicações, fomos logo informadas de que de imediato (se bem me lembro) nos iriam levar para a também saudosa e aliciante (na altura bem entendido!) Delegação Aduaneira de Alverca.
Começamos como tarefeiras e durante 4 anos e três meses fui uma tarefeira muito atarefada…
Tomei posse como secretária aduaneira ainda em Alverca, mais tarde fui a Setúbal, uma cidade muito aprazível, passei pela Rocha Conde de Óbitos, com a sua magnifica Gare Marítima e uns deslumbrantes painéis de autoria de Almada Negreiros (não é só Alcântara que os tem!) e estive ainda no aeroporto de Lisboa, de lá, voei para cá, para esta centenária Casa, nesta magnifica cidade do Funchal, daqui não sei o que me espera, talvez uma comissão numa Alfândega na órbita terrestre, é que adorava ir ao espaço…
Apesar de todas as vicissitudes por que já passei nesta Casa Fiscal ao longo destes 29 anos, continuo a gostar muito do meu trabalho.
É esquisito, é estranho, mas quem me conhece sabe que sou muito esquisita e muito estranha.
Conto por cá andar até aos 70 anos, se antes dessa data não morrer…
Saudações aduaneiras e agora tributárias também!.


Livro: A Fita Vermelha, Carmen Posadas, Círculo de Leitores/Quetzal, 2010.

8 de Maio de 2014

Terminei a leitura deste romance histórico, é um romance cuja ação atravessa o período da Revolução Francesa.
Foi a minha primeira obra desta escritora nascida sul-americana, mas que, ao que parece tem vivido em várias cidades europeias.
Nele é contada a história de uma dama espanhola, Teresa Carrabús, que "...foi revolucionária, princesa e mãe de dez filhos...", a autora, Carmen Posadas,  "...resgata-a do esquecimento e recria na primeira pessoa a vida apaixonada desta mulher de uma beleza lendária que, com o marido, teve um papel decisivo na morte de Robespierre...".
Pretende ser uma autobiografia romanceada, "... Porque é evidente ( e a reflexão é digna de ti mamã, que tanto gostavas das curiosas ironias), ter uma mãe com um passé, como dizem os franceses, é... complicado, mas ter uma avó com um passado escandaloso é do mais romântico e interessante que pode existir...".
Termino contando-vos que este romance possui um final inesperado, condizente de certa forma com o caminho que a vida de Teresa Carrabús toma a certa altura da história...

Gostei muito e recomendo muito a sua leitura.



Uma carta no Inverno, Vasco Graça Moura,1997, Poesia Reunida, Vol I, Quatzar, 2012

27 de Abril de 2014 às 22:07
Miudinha e Quietinha

pé ante pé há-de chegar a morte:
alminha vagabunda, enquanto ofegas
são as gotas da vida cabras cegas
na hora escapulada que te exporte.

alguém dirá que ao criador te entregas,
terás um atavio em lenho forte
e um necrológio do melhor recorte:
azar. lampejos, erros meus, refregas.

se da outra vida algum contacto póstumo
acaso se consente então a sós tu mo
dirás depois e se gostaste ou não.
mas se não for assim não ficas mal
mudinha e quietinha, por sinal,
há gente bem pior no panteão.

Boa noite meus amigos...