sexta-feira, 26 de junho de 2020

Aquisições do mês que chegaram hoje...

Este mês fui à feira do livro online da Relógio D'Água, a ideia era apostar em escritores russos, uns já conhecidos, outros verdadeiras estreias!
Sendo uma leitora gulosa, não resisti e trouxe de escritoras que adoro, 3 títulos novos...

O JL e a Visão ainda não chegaram mas já ganhei o dia!


segunda-feira, 15 de junho de 2020

Livro: Meridiano 28, Joel Neto, Cultura Editora, 2018.

Sem as leituras periódicas entreguei-me à leitura de um romance e à descoberta de um novo escritor, Joel Neto (1974).

Natural da Ilha Terceira, o autor divide a ação desta história entre as ilhas açorianas e Lisboa, visita ainda Nova Iorque, Friburgo, Praga, Bristol e Porto Alegre no Brasil.

A narrativa acontece em dois patamares temporais, o presente, onde o narrador em busca do sentido da sua própria vida aceita escrever um livro sobre o tio que o acolheu quando a sua mãe morreu,  e o passado, aonde a investigação o vai conduzir, ao tempo em que na cidade do Faial, coexistiam pacificamente famílias de diferentes nacionalidades, por via do controlo e manutenção de cabos submarinos decorrente da localização estratégica dos Açores.

Estas famílias, inglesas, alemãs e americanas relacionavam-se entre si, as crianças, incluindo as portuguesas frequentavam a escola alemã. 

Com o deflagrar da Segunda Guerra Mundial a vida não voltou a ser como era…

Em 1939, o mundo entrou em guerra. Foi o conflito mais mortífero da História da Humanidade. Mas, na pequena ilha açoriana do Faial, ingleses e alemães conviveram em paz durante mais três anos. Eram os loucos anos dos cabos telegráficos.

No mar emergiam os periscópios de Hitler. Dezenas de navios britânicos eram afundados todos os meses. Já em terra, as crianças inglesas continuavam a aprender na escola alemã, dividindo as carteiras com meninos adornados com suásticas. As famílias juntavam-se para bailes e piqueniques.

Os hidroaviões da Pan Am faziam desembarcar estrelas do cinema e da música, estatísticas e campeões de boxe. Recolhiam-se autógrafos. Jogava-se tennis e croquet. Dançava-se ao som de jazz. Viviam-se as mais arrebatadoras histórias de amor.” 

Foi uma leitura interessante e simpática, apreciei sobretudo as descrições cinematográficas das paisagens açorianas.

Termino como habitualmente, convidando-vos a descobrirem Meridiano 28, de Joel Neto…


sábado, 13 de junho de 2020

Bom dia, de Sto António.

Casamos neste dia há 17 anos, nesta cidade que nos acolheu, os nossos filhos assistiram à assinatura do contrato.

Residimos na freguesia de Sto António.

Sou ateia, mas gosto deste Sto e acho que ele gosta de mim.

Posto isto, bom dia, de Sto António, meus amigos...

domingo, 7 de junho de 2020

Livro: Andam Faunos pelos Bosques, Aquilino Ribeiro, Círculo de Leitores, 2009.

Concluí a leitura de mais um romance de Aquilino Ribeiro; da coleção de 16 volumes que possuímos, este foi o quinto que li e foi aquele que mais gostei.

Desde que comecei a planear as leituras que faço, incluo sempre um tomo da coleção no plano que integra autores masculinos de língua portuguesa, continuo convicta que ler Aquilino Ribeiro, limpa o palato…

Inicia assim:

Rubicundo, pesadão de farto, o estômago bem lastrado, com lombo de vinha-d`alhos, padre Jesuíno saiu a espairecer para a varanda que a aragem da serra brandamente refrescava. Manjericos e craveiros floriam dentro de velhos potes, e tão abertos, tão medrados, que do mainel transbordava para a casa e sobre o pátio uma onda álacre de Primavera. Tarde de infinita benignidade – era nas vésperas de Nossa Senhora de Maio, quando ela de andor ao céu aberto avista tudo verde em redondo -, ali apetecia gozá-la com cristianíssimo ripanço ao passo moroso da digestão. Mas não tardou que argoladas fortes soassem à porta e Jesuíno, em tamancos, as calças presas no abdómen por um negalho, camisa de estopa deixando espreitar pelos bofes a pelúcia do cerdo à mistura com o alcobaça vermelho, cigarro nos beiços, toda a sua pachorra eclesiástica mais rabugenta que cão dormido, foi ver.

A ação continua a decorrer em terras beirãs, alguém ou algo anda pelas serras alegadamente a “estuprar” as moçoilas virgens das aldeias e cercanias, aldeãs e meninas de família que depois as famílias desprezam ou elas mesmo partem em busca de liberdade.

O povo começa por realizar batidas em busca do ou dos responsáveis por tamanho despautério, mas nada acha.

Estão todos preocupados, as famílias, a igreja, afinal quem é que anda pelas serras a destruir a ordem instalada, a destabilizar famílias e as raparigas em idade de casar.

A igreja organiza um congresso de padres e demais membros do clero à procura de explicações, é então que surge a hipótese de se serem faunos, sim, Faunos que Andam pelos Bosques a desencaminharem as jovens…

Parece que li uma fábula.

Antes de terminar, deixo mais este excerto:

Bandearam-se em ágape amigos e conhecidos, e abriram-se para o monte merendeiros de folha e alforges bem aparelhados. Nas mãos brancas, nas mãos finas, nas mãos papudas apareceu o pernil de cabrito, a asa de galo, o bolinho de bacalhau; nas mãos negras e calosas – queijo, pêro e pão, comer de vilão. Breve, acima do rumor dos queixais, uma gracinha de menina, uma graçola de abade, passavam mais fugitivas e ligeiras que o canto das cigarras quando os segadores vão trolhos fora, de foice em punho, ceifando. E homens e mulheres em cacho, estendidos ao comprido, de cócoras ou de joelhos, sobre pedras e morouços de lenha, com cães à volta, os cavalos ao largo a pastar, lembrava aquilo, mais que fecho de grande romagem ou feira de ano, a ala duma horda em sua aventura nómada.

Só posso recomendar vivamente que leiam o grande, enorme Aquilino Ribeiro.