segunda-feira, 25 de março de 2019

Livro: A Educação Sentimental, Gustave Flaubert, Relógio d’Água, 2008.


Gosto de regressar ao convívio com aqueles escritores que considero intemporais, A Educação Sentimental, é apenas o segundo livro que li de Gustave Flaubert (1821-1880) e dizem os especialistas que é um clássico da literatura.

Gostei de ler Madame Bovary, do mesmo autor, mas na verdade achei A Educação Sentimental, uma obra mais estruturada e completa.

Ambos são romances de época, de critica social e bastante polémicos, se em Madame Bovary, Flaubert retrata a vida de uma mulher casada, que se sentia espartilhada pelas convenções sociais e desejosa de se sentir livre e amada, já em A Educação Sentimental, o autor desenvolve um enredo à volta de um personagem masculino que procurando a ascensão social e o reconhecimento público, anseia por encontrar e viver um grande amor, saltitando de mulher em mulher procura entre os diversos tipos sociais de mulheres encontrar a tal…

A época conturbada em que decorre a ação emoldura um retrato social de um conjunto de gentes que procuravam manter os seus bens e status intocáveis, a aristocracia, outros, os burgueses, desejavam ascender socialmente e procuravam atingi-lo através da política e a grande maioria, o povo, despoletava uma revolução em busca de uma vida melhor.

Flaubert escreve de uma forma tal que sentimos estar a viver aqueles momentos e a sentir aquelas emoções.

Concluo estas breves palavras, convidando-vos a descobrirem Gustave Flaubert…  


quinta-feira, 21 de março de 2019

Dia Mundial da Poesia


Instrumento de sombras

coração, instrumento de sombras
e silêncios vibrantes, coração que te destróis
na turvação da alma
de que matéria é feita a lucidez com que palpitas
e sabes o que vai acontecer?

rente às águas fluviais, a neblina é mais espessa
entre os choupos de inverno
também o amor é uma arte do tempo, uma
melodia delgada e frágil instalada em novembro,
tocada num instrumento de sombras

e pressentimentos, na indecisa fronteira
entre a vida e a morte, um dia
 a chuva há-de diluir tudo
na sua música, nas cadências da sua
lenta anestesia.

Vasco Graça Moura
In Poesia Reunida, Quetzal, 2012.