domingo, 29 de novembro de 2015

Maria Teresa Horta in Meninas - Ondas, D. Quixote, 2014.

“Mas de súbito senti-me pegada pelo pulso de fuso, arrebatada pela cintura, por entre o tumulto e a exaltação de quem se consome, levado pelo próprio entusiasmo. E quando ao lado da minha avó ainda trémula, fiquei de pé em chão seguro, ouvi dizer,
- Estão salvas!
Hoje continuo a perguntar-me, tal como então,
perplexa:
Salvas de quê? De quem?
De nós mesmas? Nós, de nós mesmas?”


sábado, 28 de novembro de 2015

Maria Teresa Horta in Meninas - Ondas, D. Quixote, 2014.

“Salvas de quê? De quem?
De nós mesmas? Nós, de nós mesmas?

Impossível imaginar como o mar rugia, gelado e cor de chumbo na turbulência das ondas implacáveis, sublevadas, debaixo dos nossos pés, enquanto descíamos muito lentamente até elas, eu e a minha avó que gritava a pedir ajuda, ambas no mesmo nó de absurdo a caminho da morte.
Afinal nem sequer senti medo.”


Simone de Beauvoir in O Segundo Sexo, volume 1, D. Quixote, 2015, p. 197.

"A mulher burguesa faz jus aos seus grilhões porque faz questão dos seus privilégios de classe. Explicam-lhe sem cessar (e ela sabe) que a emancipação das mulheres seria um enfraquecimento da sociedade burguesa; libertada do homem, seria condenada ao trabalho; pode lamentar não ter a sua propriedade privada senão direitos subordinados aos do marido, porém deploraria ainda mais que essa propriedade fosse abolida; não sente qualquer solidariedade com as mulheres da classe proletária; está muito mais próxima do marido do que das operárias da indústria têxtil. Faz seus os interesses do marido.”


Agustina Bessa-Luís, in Dicionário Imperfeito, Guimarães Editores, 2008.

“Não sou vaidosa. Sou contente, sou feliz e agradecida dos meus dotes de coração, dos meus talentos, da luz dos meus olhos, da saúde física, do vigor moral. Bens momentâneos - bem o sei. Valores falíveis e facilmente dispersos no tempo. Mas é nesta alegria, nesta exaltação vital, que está o meu cântico à vida – humano e, contudo esplêndido, divino e, contudo, humilde.”



Voltaire in Cândido, ou o Optimismo, Tinta-da-China.

“Decidiu um belo dia de Primavera ir passear, caminhando a direito e sempre em frente, crente de que era um privilégio da espécie humana, como da espécie animal, o poder servir-se das suas pernas a seu bel-prazer.”