quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Maria Teresa Horta in Perecível, Meninas, D. Quixote, 2014.

“Desculpa, se parece que não te compreendi ou te fiz crer de algum modo que não me importo contigo como sempre me importo. Desculpa se deixei que desligasses o telefone com a tua voz tão perto das lágrimas e eu sem conseguir dizer nada, palavras atadas na garganta com o nó da aflição, tal como eu invisível em criança, tantas vezes sumida, ensimesmada e magrinha, quase transparente, pequeno animal selvagem acossado e vigiado, perseguido ao longo da minha memória de menina a aninhar-se no tojo seco, a tentar esquecer a realidade do abandono.
Mas hoje ainda a esbracejar como se me afogasse.

Dor e luto entrelaçados no lado esquerdo do meu peito.”


Sem comentários:

Enviar um comentário