terça-feira, 31 de março de 2015

Maria Teresa Horta in “As Luzes de Leonor”, D. Quixote, 2011, pág. 269.



2014-08-13
Comecei a gostar da escrita de Maria Teresa Horta através da obra “As Luzes de Leonor”, mas, comecei a apaixonar-me pelo que Maria Teresa escreve a partir deste excerto, porquê? Porque me identifico totalmente com este “CADERNO”, eu sou assim:

CADERNO

Não gosto, não aceito, não consinto: o torpe, o mal à minha beira. A hipocrisia, a intriga e o acinte. O medíocre, o parco, o muito que escasseia.

Não aceito, não permito: o limite, a turvação do zénite. O déspota, o carrasco, os becos sem saída. O nocivo, o medo desprendido, a luz a perder-se tendo ao fundo as trevas.

Não gosto, não aceito, não consinto: obrigar-me áquilo que me impõem, ser avesso de mim, vender a alma. Pois tudo no moldar-me não me acalma.

Não aceito, não consinto, não suporto: espartilhos, carmim, brandos feitiços. As cabeleiras, as faces mosqueadas. Cabelos e sinais postiços.

Não gosto, não consinto, não aceito: o negrume, a obediência cega. O torpor, a ignorância, o perdimento. O conivente acato onde me prenda e em seguida, só, logo me perca.

Salvaterra, 1 de Março de 1780.





Sem comentários:

Enviar um comentário