quinta-feira, 7 de abril de 2016

Sophia de Mello Breyner in A Constituição da República - A cultura existe para transformar a vida, JL nº 1187 de 2016-03-30.

“ Toda a cultura real trabalha para a libertação do homem e por isso é, na sua raiz, revolucionária.

Sem liberdade crítica não há cultura verdadeiramente participante.

Queremos uma relação limpa e saudável entre a cultura e a política. Não queremos opressão cultural.

Também não queremos dirigismo cultural. A política sempre que quer dirigir a cultura, engana-se. Pois o dirigismo é uma forma de anticultura e toda a anticultura é reaccionária.

O poder totalitário persegue o intelectual e procura manipular a cultura. A sociedade burguesa marginaliza a cultura, transformando-a em luxo.

A liberdade de ensinar e de aprender decorre naturalmente da liberdade de inventar e criar e divulgar. Aliás, aprender e ensinar não são apenas direitos, mas também deveres. E, paralelamente, ensinar é pôr a cultura em comum, e não apenas a cultura já catalogada e arrumada do passado, mas também a cultura em estado de criação e busca.

Não devemos temer os perigos da liberdade. O temor dos inimigos da liberdade e do uso que da liberdade possam fazer não pode levar-nos a destruir à partida a nossa pobre liberdade de inventar, imaginar, participar.”

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