segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Maria Teresa Horta in Raquel, Meninas, D. Quixote, 2014.

“Vendo-se reflectida no espelho do precipício Raquel recua, atordoada.
Prisioneira das ambiguidades que a consomem depois de ter sido afastada dos braços de Jacob, desespera-se com a falta do seu corpo entre os lençóis da cama vazia. Desejando pedir ajuda ao divino e lembrando-se de onde ele se depara com a «porta do céu» quando da saída de Bethsabée a caminho de Haran, resolve seguir as pegadas do amado, desmanchando-as e desfazendo-as ao perfazê-las no sentido oposto.
Chegando à morada de Deus, deita a cabeça numa pedra e descansa, pretendendo decifrar o enigma. E tal como acontecera a Jacob, logo se depara com a escada de ouro, degraus de luzimento, por onde os anjos descem e sobem além das nuvens, asas matizadas pelas quais de imediato se enamorara.
«Vai-te, que este não é o lugar das mulheres!» - ordenara-lhe o Senhor. Mas tomada pela paixão do conhecimento, levada pela atracção da queda, desobedece e fica.
Insurrecta.
Imoderada.
Imprudente.”


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