sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Bernardo Soares/Fernando Pessoa in O Livro do Desassossego, Ática, 1982.


“Releio passivamente, recebendo o que sinto como uma inspiração e um Livramento, aquellas phrases simples de Caeiro, na referência natural do que resulta do pequeno tamanho da sua aldeia. D’alli, diz ele, porque é pequena, pode ver-se mais do mundo do que da cidade; e por isso a aldeia é maior que a cidade… «Porque eu sou do tamanho do que vejo/E não do tamanho da minha altura.»
Phrases como estas, que parecem crescer sem vontade que as houvesse dicto, limpam-me de toda a metaphysica que espontaneamente accrescento á vida. Depois de as ler, chego a minha janella sobre a rua estreita, olho o grande céu e os muitos astros, e sou livre com um esplendor alado cuja vibração me estremece no corpo todo.”






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