segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Livro: Estufa com Ciclâmenes, Rebecca West, Relógio D'Água, 2016.

Terminei a leitura de um livro com milhões de fantasmas à minha beira, fantasmas dos que morreram, dos que foram mortos, dos que sobreviveram, dos deslocados, dos refugiados, dos que restaram na Europa do pós-Segunda Guerra Mundial.
Este livro é uma compilação de três ensaios resultantes de um pedido que uma publicação britânica fez à autora, para cobrir os julgamentos de Nuremberga, em 1946.
Com esta leitura fiquei a saber um mais sobre os nazis, os alemães, os berlinenses, os soviéticos, os americanos, os britânicos, os franceses e sobre Berlim e Nuremberga.
O primeiro ensaio, o mais longo, incide sobretudo sobre Nuremberga e os seus habitantes, os julgamentos, os réus, os acusadores, o tédio e o aborrecimento que pairava sobre aquelas sessões aparentemente intermináveis.
No segundo ensaio, a autora retrata o que viu e sentiu quando viajou pela Alemanha Ocidental, até chegar a Berlim, uma cidade dividida em quatro e governada pelo Conselho de Controlo Aliado para a Alemanha, composto por americanos, britânicos, franceses e soviéticos.
Achei especialmente interessante a análise que a autora faz dos próprios alemães ocidentais, a forma tenaz, ordeira, empreendedora, que tiveram em reerguer a sua industria logo que foram libertados, e o que isso assustou os ocidentais.
A questão da culpa moral, que na ótica de Rebecca, os alemães contribuíram para retirar dos ombros dos aliados ocidentais:

É difícil imaginar como é que outra economia que não aquela, especulativa e livre, poderia ter sido suficientemente flexível para assimilar tantos refugiados e aliviar os Aliados de grande parte da sua culpa.”

e conclui:

Os alemães prestaram-nos um serviço ao livrarem-nos da culpa do nosso pecado contra os refugiados”.

O terceiro ensaio nasce na sequência da assistência a um congresso de economistas, no Lago de Lucerna, em 1953, é uma súmula dos dois que o antecedem, uma reflexão bastante serena, mas contundente, das decisões, da geoestratégia vigente nas décadas subsequentes à II Guerra Mundial, e da “vingança económica” do povo alemão.

Termino recomendando vivamente a leitura deste livro muito interessante…


1 comentário:

  1. Fantasmas que de vez em quando lá conseguem uma ajuda improvável de Dioniso para virem lá do Tártaro atormentar a vida dos sobreviventes de holocaustos pretéritos e resistentes a representações futuras...

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