quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Maria Teresa Horta in Meninas – Lápis-Lazúli, D. Quixote, 2014.

“A menina que ia de lado, os lábios junto da barriga da mãe, bebia-lhe o cheiro a rosas selvagens que lhe chegava coado pela seda escarlate do vestido liso, a ondear ao longo das coxas altas, perto dos seus lábios ávidos e humedecidos, enrugando odores anisados que lhe enchiam a boca de saliva. E foi quando, ao virar a cabeça de cabelos encaracolados cor de fogo, de onde iam caindo um após outro os laços de um amarelo-pálido, rosto afogueado no desejo de erguer-se na direcção da luz, encontrou abaixo do ombro da mãe, e sob o pulso que a estreitava nervoso e fabril, a delineada doçura dos seios delicados e, mais acima, desviados numa inquietude esquiva, os olhos lápis-lazúli ponteados de estrelas que ela sempre ia inventando em translúcidos simulacros de realidade.”


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