quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Maria Teresa Horta in A Ilha, Meninas, D. Quixote, 2014.

“Distraída consigo mesma, a minha mãe continuava fechada no quarto, onde a fui encontrar sentada diante do espelho do pequeno e delicado toucador de cânhamo que comprara mal chegara à ilha.
Pintava a boca com vagares de demora, primeiro contornando, delineando, e depois cobrindo os lábios com o bâton muito vermelho, a contrastar com a palidez do seu rosto ávido e com o louro das sobrancelhas do tom exacto dos cabelos ondeados a tombarem-lhe nos ombros cobertos pelo cetim azul-lilás do vestido cingido, segundo me lembro até hoje, folheando a memória, ou nos ombros cobertos pela seda cinzento-pérola do mesmo vestido cingido, tal como a dá a ver, desmentindo-me, uma fotografia que ainda hoje guardo.”






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