domingo, 11 de dezembro de 2016

Livro: Os Demónios, Fiódor Dostoievski, Relógio D’Água, 2010.

Terminar a leitura de uma obra como Os Demónios de Fiódor D., deixa-nos diferentes, algo desconfortáveis, deixa um lastro que só certos escritores conseguem através da força que imprimem nas palavras, das emoções que despertam em nós, os temas em si são poderosos: a alma russa, o povo, as classes sociais, o clima e a religião, está tudo ali, uma intensidade, uma escalpelização da sociedade russa do século XIX, Fiódor D.teve a capacidade de ler os sinais e de antecipar “… os excessos e sofrimentos para que o seu país caminhava.”
Neste romance Fiódor D. aborda as «novas ideias» e as novas correntes políticas, que proliferavam naquela época, nomeadamente o niilismo, ao que pude apurar (pois não li ainda), um tema já tratado por outro escritor russo, Ivan Turguéniev, no seu romance Pais e Filhos.
O niilismo, muito sucintamente, é uma corrente filosófica “… cuja principal característica é uma visão cética e radical em relação às interpretações da realidade, que aniquila valores e convicções. É a desvalorização e a morte do sentido, a ausência de finalidade e de resposta ao “porquê”. Os valores tradicionais depreciam-se e os "princípios e critérios absolutos dissolvem-se. Tudo é sacudido, posto radicalmente em discussão.”
“Na Rússia, uma vez saído do restrito âmbito filosófico e literário para o plano social e político, o niilismo passa a designar um movimento de rebelião contra a ordem estabelecida, o atraso, o imobilismo da sociedade e os seus valores.”

Fiódor D.escreveu outros livros, porventura mais conhecidos, tais como: Crime e Castigo (1866), Os Irmãos Karamazov (1880), O Jogador (1867) ou o Ofendidos e Humilhados (1860).
Esta obra literária tem uma particularidade de contemplar dois “Capítulo Nono”, por detrás desta singularidade existe uma história:

De acordo com o editor, “na primeira edição russa, o editor da revista Russki Véstnik, recusou o capítulo nono do romance a pretexto de que não passaria na censura. Dostoievki escreveu assim um novo capítulo nono, completamente diferente do inicial.”

As edições até 1922 contemplavam essa segunda versão do romance, a partir dessa data o destino do capítulo nono original era variável tanto em edições estrangeiras como russas, umas vezes era incluído no final da segunda parte, outras vezes como apêndice, em algumas vezes nem aparecia.
O “Capitulo Nono” original é muito importante para compreendermos as razões que levaram ao suicídio, um dos personagens principais, Nikolay Vsevolodovitch Stavróguin, um jovem aristocrata. E não deixa de ser interessante constatar que já naquele tempo a pedofilia era um tema tabu.

Muito mais poderia dizer sobre esta obra, de tão rica que é, mas eu mesma ainda estou a interiorizá-la e a digeri-la, resta-me recomendar a sua leitura, e desejar voltar a Fiódor Dostoievski o quanto antes…


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