terça-feira, 29 de março de 2016

Virginia Woolf in II – O Tempo Passa, Rumo ao Farol, Relógio D’Água, 2008.

“A casa estava abandonada; a casa estava deserta. Era como uma concha na duna a encher-se de grãos de sal ressequido, agora que a vida a deixara. Dir-se-ia estabelecida a longa noite; e as frívolas correntes de ar mordendo, os pegajosos golpes de vento tacteando, dir-se-ia haverem triunfado. Cobrira-se de ferrugem a frigideira, a esteira corrompera-se. Os sapos tinham penetrado na casa. Negligentemente, sem objetivo, o xaile baloiçante oscilava de lado para lado. Um cardo introduzira-se por entre os azulejos da despensa. As andorinhas faziam ninho na sala de estar: o chão estava juncado de palha; o estuque caía às pazadas; as vigas estavam à vista; as ratazanas acarretavam isto e aquilo, para roer por detrás do forro das paredes. As borboletas rompiam as crisálidas, fervilhavam de vida contra as vidraças. As papoilas implantavam-se por entre as dálias; o relvado acenava na sua longa relva; alcachofras gigantes alteavam-se pelo meio das rosas; um cravo frisado florescia entre as couves; enquanto o suave bater de uma erva daninha se convertera, nas noites de Inverno, no tamborilar das árvores robustas e das sarças de espinhos que, no Verão, tornavam o quarto completamente verde.”


Sem comentários:

Enviar um comentário