sábado, 9 de dezembro de 2017

Livro: Lápides Partidas, Aquilino Ribeiro, Círculo de Leitores, 2008.

Terminei há pouco a leitura de mais um romance de Aquilino Ribeiro (AR), já lá vão quatro e tenho ainda o triplo para desfrutar.

Gosto de regressar a AR, sinto mesmo uma certa necessidade intelectual e literária de continuar a descobrir os nossos clássicos, pela sua forma plástica de nos transmitir ideias e acontecimentos, pela sua intemporalidade, infelizmente nem sempre pelas melhores razões.

Dos romances que li de AR, Lápides Partidas é o primeiro cuja ação decorre maioritariamente em Lisboa, mercê da vinda para a cidade de Libório, o personagem à volta do qual se desenvolve toda a trama. Libório, é um jovem homem, cheio de ideais republicanos que vem para a capital à procura de trabalho e sobretudo anseia participar na ação revolucionária de derrube da monarquia vigente.

O romance permite-nos compreender o estado em que se encontrava o país, política, económica e socialmente, é um retrato de um país pobre, atrasado, um quase salve-se quem puder.

Libório questiona-se, quando já no final, foge do país tendo como objetivo chegar a Paris, para tal passa a fronteira em direção ao país vizinho e sente logo a diferença:

(...) Era Espanha, gente de Espanha; outra louça.
(...) Lá está Aldeia del Obispo ao fundo da encosta, saraivada de branco … e um aspecto sério de aglomeração ordenada e progressiva; lá estão sulcando o céu claro, como as linhas de papel de música, suspensos de paralelogramos certos e espaçados – os paralelogramos da civilização – os fios da electricidade, do telefone, do telegrafo.
(...) Porquê? Porque é que esta má sina persegue ao «triste do lusíada, coitado» Não sei. Mas uma das ilações a tirar será esta: desde tempos imemoriais que andam falseadas nesta terra as barras de comando. A tragédia de Fevereiro [assassinato do rei e do príncipe] tem de ser vista à luz pavorosa deste prisma.

E termina, concluindo, este notável romance:

E a que luz as outras realidades? Sim, porque a gente da minha terra, eu, meus pais, os cavadores, os meus amigos, o meu espírito, o nosso espírito correm mundo sob um manto de desdita e menoscabo!”

É uma aprendizagem permanente e prazerosa, sobretudo em termos linguísticos, ler Aquilino Ribeiro!

Recomendo vivamente que partam à descoberta dos nossos clássicos…


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